Sonda acorda após 10 anos de hibernação no espaço.

Na última segunda, a sonda Rosetta acordou depois de passar 10 anos viajando pelo espaço, e 2,5 anos em estado de hibernação. Construida pela agência espacial europeia, foi lançada em 2004 e depois de todo esse tempo de viagem, está próxima de atingir seu alvo: o cometa 67P/Churyumov–Gerasimenko, onde irá pousar um módulo capaz de "revelar os segredos da formação do sistema solar".

Ao lado, uma ilustração com a sonda à direita, e o módulo de pouso à esquerda. A Terra ao fundo é uma mera composição, pois o encontro ocorrerá próximo a Júpiter, em novembro desse ano.

Esse é (outro) momento histórico para a humanidade - continue a leitura desse post para compreende-lo e para fazer parte dele!

"Wake up Rosetta"

Considerado o mais importante despertador do sistema solar, o comando que um dos computadores da sonda europeia Rosetta executou na manhã do dia 20 deste mês (às 8h pelo horário de Brasília) conseguiu acordar a nave que hibernava a mais de 2 anos e meio. Ela passou a última década passeando solitariamente entre a Terra, Marte e o Sol, e atualmente está a mais de 800 milhões de Km, nas redondezas de Júpiter. Cientistas do mundo todo voltaram a atenção para um sinal  - fraquíssimo, diga-se de passagem - enviado por ela assim que acordou. Ela está tão longe que o sinal viajou por mais de 45 minutos  (na velocidade da luz) para chegar até nos!

A Agência Espacial Europeia (ESA) e a NASA elaboraram uma campanha para saber como a população mundial acordaria essa sonda. Os resultados recebidos foram no mínimo curiosos... clique aqui para ver.

A Missão
Considerada a mais ambiciosa dos últimos tempos, Rosetta foi projetada para ser um satélite do cometa 67P/Churyumov–Gerasimenko. Foi lançada em março de 2004, a bordo de um foguete Ariane 5, no  Centro Espacial Europeu de Kuru, na Guiana Francesa. Em maio deste ano alcançará seu alvo, e entrará em órbita do cometa, acompanhando-o em sua próxima passagem pelo Sol (periélio, em agosto de 2015). Se tudo der certo, será a primeira sonda capaz de analisar de perto a composição de um cometa, e espera-se que ela possa revelar "os segredos da formação dos planetas, [...] e da vida".

Em novembro irá liberar o módulo de exploração Philae (na imagem ao lado), carregado com aproximadamente 100kg de aparelhos científicos (espectômetros, magnetômetros, telescópio...), que se fixará na superfície do cometa para fazer  análises em solo. "Ele lançará arpões ao chão para se ancorar, porque a gravidade é muito baixa e, não fosse assim, rebateria", resume Nicolas Altobelli, um dos cientistas da ESA que participam da missão, que explica que a quase ausência de gravidade faz com que a aterrissagem seja, em princípio, mais complexo que o de um aparelho similar na superfície de Marte.

Esse veículo, equipado com várias ferramentas como indicadores de gás, câmeras panorâmicas e sondas para analisar as ondas de rádio do núcleo, passará entre um e dois meses fazendo fotografias e recolhendo mostras que analisará junto com sua sonda matriz, que orbitará, enquanto isso, ao redor do cometa.

Esta será a primeira missão a analisar de tão perto (da superfície e em órbita) a passagem de um cometa pelo Sol.  A sonda e o robô são dotados, no total, de 21 instrumentos. "Queremos saber tudo sobre o cometa, seu campo magnético, sua composição, sua gravidade, sua temperatura, tudo!", disse Amalia Ercoli-Finzi, encarregada de um dos muitos experimentos que integram o programa.  Para começar a preparar a ambiciosa aterrissagem, primeiro o dispositivo precisará provar que todos seus instrumentos científicos funcionam corretamente após o longo percurso - seu despertar no dia 20 foi um ótimo sinal de que as coisas estão indo bem. Ao lado, uma ilustração que revela os detalhes da missão. (clique na imagem para ver em tela cheia).


A longa trajetória

Rosetta fez um longo caminho pelo sistema solar durante essa viagem que já dura mais de uma década: circundou três vezes a Terra e uma vez Marte, usando o empuxo gravitacional dos planetas como um estilingue. "Tivemos que circundar o sol cinco vezes em diferentes órbitas para ganhar velocidade", explicou Paolo Ferri, diretor da missão solar e planetária da ESA. Clique na imagem ao lado para ver alguns detalhes de sua trajetória, e os demais astros que visitou. O aparelho viaja agora a 135 mil km/h, e ainda está a 9 milhões de quilômetros de seu alvo. A aproximação final ocorrerá em agosto, e será necessário uma série correções em seu curso para conseguir acompanhar o cometa em sua órbita

A animação abaixo revela como foi a viagem da sonda até agora, e o que é esperado dela a partir de agosto deste ano:

Por que este, e não outros?

Mas por que o 67P/TG é o alvo, e não outro entre os incontáveis cometas próximos de nós? 

Este cometa em particular viveu bilhões de anos no espaço profundo até que uma passagem perto de Júpiter mudou radicalmente sua órbita em 1959, transformando-a numa órbita fechada de período de 2.349 dias (6,45 anos). Dito de outra forma, este cometa quase não sofreu erosão dos raios solares ao longo de sua vida. Além disso, suas características físicas e formato indicam que sua análise pode ser facilitada: é uma rocha congelada de 4km de diâmetro, com massa estimada em 3.400.000 toneladas! Acima, um registro feito pelo VLT em 5 de outubro de 2013 desse imenso corpo (sim, é o "pontinho" que aparece na imagem, registrada quando passava aqui por perto, a 500 milhões de km de nós...).

Arqueologia Espacial

Esta missão bilionária de "arqueologia espacial" deve seu nome à famosa pedra Rosetta (fragmento de estrela com um mesmo texto em três línguas diferentes), que permitiu ao francês Champollion descifrar hieroglifos egípcios no começo do século XX.  Assim como no passado, a missão da Agência Espacial Europeia envolve uma grande variedade de especialistas... abaixo uma foto com grande parte deles:

"Rosetta é uma missão única - tecnologicamente, cientificamente, e filosoficamente, porque os cometas podem estar na origem de quem nós somos", disse o diretor geral da Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês), Jean-Jacques Dordain.   Remanescentes  da época do surgimento do sistema solar, há 4,6 bilhões de anos, os cometas são aglomerados de gelo e poeira - o que explica seu apelido, 'bolas de neve sujas'. Acredita-se  que eles foram os responsáveis por trazer grande parte da água para nosso planeta - Rosseta possui a capacidade para analisar um deles e comprovar essa ideia!

"Pela primeira vez seremos capazes de analisar um cometa durante um longo período de tempo" e isso nos dará "uma visão interna de como trabalha um cometa para nos ajudar a decifrar o papel que desempenham no Sistema Solar", sintetiza Matt Taylor, cientista que atua na missão.

"Abrir estas cápsulas do tempo, observar o gás, a poeira e, particularmente, o gelo de que são feitos fornece grandes pistas sobre a origem do nosso Sistema Solar e, potencialmente, até sobre a vida", explicou o astrofísico Mark McCaughrean, da Agência Espacial Européia. "Esta cápsula do tempo está fechada há 4,6 bilhões de anos. Chegou o momento de abrir a arca do tesouro", acrescentou.

Assim como essa equipe, continuarei olhando para o céu, acompanhando a viagem dessa sonda,que quem sabe, poderá nos auxiliar na busca das respostas sobre nossas origens!   

" Vida longa e próspera Rosetta".

Fontes dessa publicação:

Portal Terra  (segredos, contagem regressiva, esta ativa, sonda acorda); Portal Space (Catch a comet, infographic,  chasing deep sleep,  hibernation wake up, comet journey). Dailymail, UniverseToday,  Agência Espacial Europeia (ESA),