A comunidade científica está eufórica com o anúncio da detecção em Vênus de grandes quantidades de fosfina, um gás que aqui na Terra está associado a atividade orgânica.
Talvez a proposição feita pelo astrônomo Carl Sagan, ha 50 anos, possa ser comprovada!
Entenda o que são biomarcadores, e o que foi detectado na alta atmosfera de Vênus.
Para iniciarmos, compreenda o impacto dessa descoberta: assista a essa breve reportagem veiculada no Jornal da Band, na noite do dia 14:
Vênus
Ninguém apostava que Vênus teria condições de suportar vida devido a alta temperatura e pressão em sua superfície, cujas médias estão em torno de 460 ºC e 92 bar. Exceto pelo astrônomo norte americano Carl Sagan, que ao longo de sua carreira dedicou-se a diversos temas, dentre eles o estudo de Vênus e da vida extraterrestre por exemplo. Seu artigo publicado na revista Nature em 1967 foi referência para pesquisas sobre o tema. possibilidade de encontrar vida em outros lugares, e especificamente em Vênus foi retratada por ele na série Cosmos, veiculada na TV originalmente nos anos 1980. Veja uma entrevista que ele divulgou sobre a vida fora da Terra em 1963:
“Afirmações extraordinárias exigem provas extraordinárias.”
Astrônomas Jane Greaves, Clara Souza e Sara Seager.
A equipe divulgou que foi detectado grandes concentrações do biomarcador fosfina na atmosfera. Aqui na Terra, esse gás está associado a algumas bactérias, e é daí que surge a pergunta: Será que há bactérias vivendo em Vênus? Entenda esses detalhes "técnicos" nessa entrevista do astrônomo da USP Roberto Costa:
O que são biomarcadores
Biomarcadores são combinações de elementos químicos que estão associados ao algum processo metabólico de seres vivos.
Todo ser vivo elimina diversas combinações de elementos químicos que quando são encontrados em um ambiente pode ser associado a algum tipo de vida SE essa combinação não for gerada por algum outro processo natural. Como exemplo, cito o gás carbônico: apesar dele ser eliminado pela respiração de seres vivos, ele também é emitido por vulcões. Vênus possui uma atmosfera rica em gas carbônico proveniente dessa atividade vulcânica, e por isso não é um bom biomarcador.
Porém, o elemento identificado em Vênus, a fosfina, é uma combinação dos elementos químicos fósforo e hidrogênio (PH3) que não é produzido aqui na Terra por meios naturais, apenas por bactérias anaeróbicas, que combinam o fosfato (PO4) presente nas rochas com hidrogênio e, desse processo , "roubam" o oxigênio para respirar, liberando a fosfina. Essa bactérias vivem em ambientes onde não há oxigênio, incluindo no fundo de alguns lagos, esgotos e no intestino de humanos e outros animais, segundo os autores da descoberta.
Em processos industriais, a fosfina é um derivado fédito e tóxico do fósforo, usado como arma e inseticida, e também um resíduo da produção da droga metanfetamina.
O estudo relata que a quantidade de fosfina em Vênus é 10.000 vezes maior do que poderia ser produzido por métodos não biológicos. As simulações que fizeram indicam que processos naturais que poderiam gerar fosfina em Vênus, entre eles o impacto de raios, a fricção tectônica e a queda de meteoritos, não seriam capazes de produzir a concentração que identificaram. E concluíram que todos esses processos são muito menos prováveis para a produção do gás do que a presença de micróbios nas nuvens de Vênus.
Agora os químicos estão "quebrando a cabeça" para demonstrar que a fosfina não pode ser produzida pelas condições naturais do planeta, o que comprovaria de forma indireta a presença de seres vivos por lá. A fosfina já foi identificada em Júpiter e Saturno, cuja produção ocorre ao unir um átomo de fósforo com três de hidrogênio em suas camadas internas, que estão a mais de 500 graus, num processo totalmente alheio à presença de vida.
Sousa-Silva reforçou em uma entrevista ao jornal Elpais que a publicação do estudo é um pedido de ajuda à comunidade internacional. “Não encontramos nenhuma explicação alternativa à presença desse composto em Vênus. Precisamos que a comunidade científica analise nossos dados e nos demonstre que é possível gerar fosfina sem a necessidade de que os micróbios o façam”, afirma.
Assista mais essa entrevista do astrônomo Roberto Costa, que conta mais detalhes sobre essa ideia:
Cientistas de diversas áreas apresentam seus argumentos contras e a favor da pesquisa apresentada, na busca de uma compreensão melhor da situação que foi detectada. Por isso, essa história deverá rolar por mais um tempo, até que respostas mais objetivas possam comprovar se a fosfina detectada poderia ser proveniente de algum processo até agora desconhecido em Vênus.
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