SIM - foi isso que você ouviu falar durante a semana passada! Diferentes meios apresentaram a "grande descoberta da NASA"... Pelo menos foi assim que você entendeu certo?
Pois saiba que não foi nada disso que os cientistas na NASA divulgaram na conferência ocorrido no último dia 28. Mais uma vez o jogo de palavras criaram mais espetáculo do que informação...
Quer saber o que realmente foi apresentado pela NASA?
Os fatos
A imagem ao lado foi uma das que causaram o alvoroço... Ela é uma sequência de fotos registradas pelo satélite Mars Orbiter Survey, ao longo das mudanças das estações do ano marciana. Pela animação é possível perceber o surgimento de veias na superfície do planeta, muito similares ao fluxo de água líquida.
Peço atenção especial a palavra SIMILARES utilizada - pois foi isso que os pesquisadores da missão anunciaram: fluxo de uma mistura de sais diluídos em água no estado líquido.
Esse fenômeno já era conhecido, e vinha sendo monitorada e estuda ha pelo menos 8 anos. A grande divulgação da NASA feita na semana passada ocorreu devido para novas informações coletadas por instrumentos mais modernos, que analisaram esses fluxos de salmoura utilizam técnicas mais avançadas de espectroscopia.
As condições
A superfície de Marte não possui as condições de pressão e temperatura adequadas para a existência de água no estado líquido. Na verdade estão muito abaixo do ponto de fusão dessa substância. Por isso é improvável encontrar água líquida na superfície do planeta.
Dessa maneira, os fluxos registrados pelas imagens não foram de água pura, mas sim de uma espécie de salmoura, uma mistura de água congelada com sais próprios da superfície do planeta.
Nesse momento, cabem algumas "informações importantes":
1) o sal misturado com a água altera algumas de suas propriedades, entre elas, seu ponto de fusão. Mas ainda sim com essa mistura, seria improvável encontrar algum líquido na superfície de Marte.
2) A mídia divulgou que água em Marte seria salgada... na verdade é foi o termo "salmoura" apresentados pelos pesquisadores que foi traduzida com água salgada - esse erro deu a entender que foi encontrado água salgada como a dos oceanos terrestres...
3) o fato de Marte não possuir condições para abrigar água líquida não significa que o planeta foi sempre assim. Acredita-se que no passado a superfície marciana era coberta por oceanos, como a Terra. Essa teoria ainda é incerta, e as sondas que lá estão buscam provas para corroborar essa ideia. A ilustração ao lado foi feita pela NASA que revela como seria o planeta no passado.
O que foi realmente divulgado
Os pesquisadores da NASA utilizaram um novo software, capaz de extrair dados espectroscópicos de apenas 1 pixel de imagem. Essa nova técnica detectou a presença de cloreto de magnésio, perclorato de magnésio e perclorato de sódio. Esses sais, quando misturados à água, alteram brutalmente seu ponto de congelamento e evaporação o que permite que se mantenha mais tempo em estado líquido.
Esse estudo confirma a existência dos fluxos de salmoura em algumas crateras e montanhas marcianas através da observação de veios que surgem de forma sazonal, aparecendo no verão e desaparecendo no inverno, fato este que chamou a atenção dos pesquisadores. Confira no vídeo abaixo as imagens analisadas com essa técnica:
Mais perguntas do que respostas
(isso é o que é esperado em pesquisas científicas, e não certezas como a mídia nos leva a crer...)
A confirmação da presença dos sais já era esperada, pois diversos estudos já apontavam nesta direção. No entanto, a descoberta não responde uma pergunta crucial: como ou em que condições elas se formam?
Aqui na Terra, sabe-se que as salmouras se formam quando os sais presentes no solo, os percloratos, absorvem vapor de água da atmosfera ou do solo. Como os estudos mostram que a quantidade de vapor de água na atmosfera marciana é desprezível, especula-se que a água presente na salmoura possa estar vindo do solo. Mas de onde?
Para responder a essa pergunta, os cientistas deverão rever as próximas missões robóticas ao planeta e direcionar equipamentos especializados até os locais das possíveis nascentes dos fluxos de salmoura e realizar ali as novas prospecções geológicas e atmosféricas.
Caso a água da salmoura observada tenha de fato origem no subsolo - e muitos apostam suas fichas nessa possibilidade - deveremos então testemunhar no futuro próximo uma das mais importantes buscas por vida microbiana fora da Terra, com grandes chances de serem encontradas já nos próximos anos.
E as sondas que já estão por la?
Porém, um tratado internacional da ONU assinado em 1967 referente à exploração espacaial da Lua e outros planetas impede que qualquer sonda se aproxime delas, devido a preocupações quanto a contaminação.
Esse artigo diz, de modo simplificado, que os signatários do tratado devem realizar os estudos na Lua e nos corpos celestes com extremo cuidado, de modo a evitar a sua nociva contaminação e também possíveis alterações prejudiciais no ambiente da Terra, que possa ser resultante da introdução de substâncias extraterrestres.
Como se sabe, antes de partir rumo a outros planetas as naves são submetidas a intensas sessões de esterilização, mas nenhuma delas no grau necessário para a exploração da água no Planeta vermelho.
Para chegar até Marte o robô precisou viajar 225 milhões de quilômetros e neste trajeto pode ter sido contaminado por todo o tipo de partícula ou até mesmo micróbios, o que o torna possivelmente "sujo", violando o artigo IX do Tratado de Exploração Espacial.
De acordo com Rich Zurek, cientista-chefe da Nasa para as missões a Marte, nenhum dos robôs atualmente em atividade no solo marciano está esterilizado no grau necessário para se aproximar da área onde o líquido possa estar presente.
Segundo o astrobiólogo Malcolm Walter, a Nasa e outras agências tem condições plenas de esterilizar em 100% qualquer objeto, mas a quantidade de radiação necessária é tão grande que fatalmente danificaria os instrumentos eletrônicos a bordo de uma nave.
"De modo a esterilizar 100% deve-se usar poderosas radiações ionizantes ou então calor intenso, mas ambos danificariam os instrumentos. Não é nada fácil fazer isso", explicou Walter.
O que fazer então?
Tais questões torna a inspeção direta dos locais um problema de difícil solução, seja para as sondas, quanto para humanos.
Como amplamente divulgado, a NASA tem planos de enviar seres humanos a Marte em 2030, então talvez esses astronautas possam ver com seus próprios olhos a "água úmida" correndo em ranhuras marcianas.
Outra possibilidade seria o envio de robôs capazes de construir, lá em Marte, outros robôs livres de contaminação. Essa possibilidade não é tão utópica como parece, já que a NASA vem desenvolvendo robôs capazes de imprimir estruturas em 3D, que poderiam ser usadas no planeta.
Sobre a mídia...
Penso que ao veicular notícias assim, a imprensa (em geral) esteja na verdade buscando outro tipo de retorno: o marketing com "propagandas"... Findo essa publicação com uma das brincadeiras que foram veiculadas a esse respeito... (veja se você entendeu: water ON mars...)
Fonte:
Apolo11 (link1 link2) The Guardian, NASA (link1 link2)Scientist Alert
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